Intervenção Psicológica em Contextos Escolares
«Educar é culturalizar e a cultura como um todo é um produto social»
Modelo Sistémico
A falência das intervenções psicológicas baseadas no modelo médico – psicológico (centrado no pressuposto da causalidade interna dos problemas da criança, implicando uma intervenção estritamente individual e remediativa), levou à necessidade de reconstrução da Psicologia da Educação, com novas modalidades de intervenção, tomando em linha de conta que a pessoa é uma parte activa e intencional do ambiente em que interage.
Neste quadro, as perspectivas construtivistas, sistémicas e ecológicas assumiram um papel particular na intervenção psicológica em contextos educativos, possibilitando a adopção de abordagens preventivas e proactivas, levando em linha de conta o papel da relação entre os contextos na promoção do desenvolvimento da criança.
Esta nova perspectiva, menos redutora da complexidade humana, conduz, então, à emergência de um novo paradigma que, em primeiro lugar, procura assimilar e integrar (...) a dimensão sócio-institucional da acção educativa; e que, em segundo lugar, procura realizar a integração dos vários ‘tópicos’ da psicologia cognitiva, desenvolvimental e social, estudados na situação real que é a sala de aula, a escola e a comunidade envolvente.
A teoria de Vygotsky teve um papel fundamental nesta mudança paradigmática, nomeadamente através da ideia de que toda a aprendizagem tem lugar em contextos, com conjuntos de normas e expectativas culturais e sociais — estes contextos influenciam as aprendizagens, tornando predominante o papel da interacção social e da cultura.
Também Bronfenbrenner e a sua teoria da ecologia do desenvolvimento humano tiveram um papel fundamental na mudança paradigmática da Psicologia da Educação. Urie Bronfenbrenner estudou o desenvolvimento humano numa perspectiva ecológica, ou seja, o estudo científico da progressiva e mútua acomodação entre um ser humano activo e em crescimento e as propriedades em mutação dos cenários imediatos nos quais a pessoa em desenvolvimento vive, já que este processo é afectado por relações entre estes cenários e pelos contextos mais amplos em que esses cenários se inscrevem (Bronfenbrenner, 1979, p. 21). Desta definição decorre que: a) a pessoa em desenvolvimento não é vista como algo de passivo que sofre o impacto do ambiente, mas como uma entidade dinâmica e em crescimento que progressivamente se move e reestrutura o meio em que vive; b) a interacção entre a pessoa e o ambiente é vista como bidireccional, ou seja, caracterizada pela reciprocidade; c) o ambiente, definido como relevante para o processo de desenvolvimento, não se restringe ao cenário imediato, mas é alargado de forma a incorporar interconexões entre cenários, bem como influências externas provenientes de ambientes mais amplos. Deste quadro nascem as já célebres conceptualizações e definições de microssistema, mesossistema, exossistema e macrossistema, que permitem a análise dos cenários em termos de parâmetros relevantes do ponto de vista do desenvolvimento e da educação (Bronfenbrenner, 1979).
Assim, a tarefa central da psicologia educacional, à luz deste modelo, é estudar os processos interindividuais (gerais e diferenciais) através dos quais e graças aos quais se operam as mudanças individuais. O interesse pelo campo interindividual nas situações educativas vai a par com um interesse simultâneo pelo campo intraindividual. Mas a preocupação pelo indivíduo torna-se indissociável do estudo das interacções sociais que contribuem para a sua mudança, tendo o sujeito educado um estatuto de co-autor na sua própria mudança (Gilly, 1984, p. 474).
Bibliografia
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Melo, M., & Pereira, T. (2007). Processos de mediação na emergência do modelo ecológico-desenvolvimental em psicologia da educação. Revista Galelo-Portuguesa de Psicoloxía e Educación, 15 (2), 41-54.