top of page

EMPOWERMENT

 

Conceito de Empowerment
 

Para a psicologia comunitária, o empowerment tem vindo a tornar-se numa área de intervenção crucial e um dos seus principais objetos de estudo, pois permite o entendimento da especificidade e qualidade das relações entre os indivíduos e a comunidade, entre as várias organizações nas comunidades e destas últimas com o sistema social e político (Ornelas, 1997).

 

Jullian Rappaport (1987) definiu-o como um processo ou mecanismo através do qual as pessoas, as organizações e as comunidades podem assumir o controlo sobre as suas próprias vidas. A perspetiva do empowerment, num contexto comunitário, segundo Rappaport (1992), consiste “em identificar, facilitar ou criar contextos em que as pessoas isoladas ou silenciadas possam ser compreendidas, ter uma voz e influência sobre as decisões que lhes dizem diretamente respeito ou que, de algum modo, afetam as suas vidas.”

 

Neste seguimento, o empowerment é visto como um ganho pessoal, uma experiência comunitária e um objetivo orientado para a intervenção social.

 

Apesar da variedade de perspetivas e abordagens sobre o empowerment, consideramos relevante salientar algumas das suas qualidades, como o facto de ser um constructo multidimensional, que envolve uma perspetiva de mudança que ocorre da base para o topo (bottom-up) e varia com os contextos em que tem lugar. O empowerment é eminentemente interativo, pelo que ocorre em contextos coletivos e constitui-se como um processo e não como um estado fixo.

 
Dimensões do Empowerment
 

Zimmerman torna mais específica a conceptualização de empowerment, referindo-se ao conceito como tendo três dimensões: controlo, consciência crítica e participação.

 

O controlo refere-se à perceção que o individuo tem sobre as suas competências para influenciar o sistema sociopolítico ou sobre o controlo que detém numa situação específica. Assim, a componente de controlo é entendida, não como o controlo ou poder sobre os outros, mas refere-se à aspiração, confiança e convicção pessoais sobre a sua capacidade de intervenção e influência em várias esferas da sua vida: família, trabalho, comunidade.

 

O empowerment envolve o desenvolvimento da consciência crítica sobre a sociedade e sobre a comunidade. A consciência crítica refere-se ao conhecimento que os indivíduos têm sobre a sua comunidade e à sua capacidade em analisar e questionar o contexto social e político em que estão inseridos. O conhecimento sobre o contexto permite saber identificar e perceber como funcionam as estruturas de poder, conhecer os seus processos de decisão, identificar e prever os fatores que podem dificultar ou facilitar a sua intervenção e influência no contexto. A consciência crítica inclui também o planeamento estratégico e a habilidade de identificar, mobilizar e gerir os recursos necessários para alcançar os objetivos pretendidos.

 

A componente participação refere-se à ação concreta para atingir os objetivos estabelecidos. A participação pode traduzir-se no envolvimento em grupos de ajuda mútua, numa associação de pais duma escola, no local de trabalho ou em movimentos sociais que procuram influenciar o sistema social e político. A participação dos cidadãos refere-se não só à sua presença e acompanhamento na realização de uma atividade ou acontecimento, mas significa real possibilidade de expressar opiniões e contribuir para os processos de tomada de decisão. Deste modo, os autores identificaram duas formas de participação, para além da participação eleitoral:

  • As organizações ou movimentos sociais iniciados pelos cidadãos, nos quais são eles que definem os seus objetivos e escolhem os seus métodos de ação;

  • Mecanismos de iniciativa governamental, permanentes ou temporários, de auscultação dos cidadãos em relação às atividades dos organismos públicos ou sobre alterações legislativas.

 

Categorias do Empowerment
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

A natureza e a intensidade das barreiras sociais e do contexto afetam as oportunidades de participação e a capacidade de iniciativa individual e coletiva. Por outro lado, os contextos podem ser promotores dos processos de empowerment quando facilitam o acesso à informação ou proporcionam oportunidades de participação e liderança. É a interação dinâmica entre as aspirações e competências dos indivíduos, grupos e comunidades, e as oportunidades de participação nos contextos onde estão inseridos que cria as condições para o empowerment.

 

 

Níveis individual, organizacional e comunitário
 

O empowerment é um processo que ocorre a nível individual, organizacional e comunitário, sendo que o empowerment a um nível não leva necessariamente ao empowerment a outros níveis.

 

A nível individual, o empowerment é o processo através do qual os indivíduos ganham o controlo sobre as suas vidas e a participação democrática nas suas comunidades. O empowerment individual integra as componentes de controlo, consciência crítica e participação, implicando não só a perceção individual de competência ou o conhecimento de como os objetivos podem ser alcançados, mas exige o envolvimento ativo dos indivíduos na comunidade.

Ao nível organizacional, o empowerment refere-se aos processos e estruturas organizacionais que promovem a participação dos seus membros e aumentam a eficácia em termos da realização dos objetivos e da obtenção de resultados. Para aumentar a eficácia da ação conjunta é necessária a combinação da consciência crítica com a participação efetiva nos processos de tomada de decisão e, ainda, um bom nível de desempenho em domínios essenciais para o exercício da liderança comunitária. Este nível comporta duas dimensões:

  • As organizações empowering são organizações que aumentam as competências dos seus membros e lhes proporcionam oportunidades de participação e influência nos processos de tomada de decisão, ou seja, são as organizações que promovem o empowerment dos seus membros;

  • O empowerment organizacional refere-se também ao aumento da eficácia da organização em termos da obtenção de recursos, no trabalho em parceria com outras organizações, no desenvolvimento de alternativas eficazes de prestação de serviços e no aumento da sua influência nos processos de mudança ou nas decisões políticas. Estas são consideradas organizações empowerd.

 

O nível comunitário faz referência à ação coletiva para a melhoria da qualidade de vida da comunidade. Esta ação coletiva implica a participação dos cidadãos e das organizações locais na identificação das necessidades da comunidade, no desenvolvimento e implementação de estratégias que resolvam essas necessidades. As comunidades empowered utilizam as ligações e a colaboração entre as várias organizações para otimizar o seu funcionamento e responderem de forma eficaz aos seus problemas.

Surge quando as instituições apresentam mecanismos que influenciam decisões públicas que estejam relacionados com os cidadãos e as suas instituições sociais, criando assim novas oportunidades para os cidadãos participarem em processos decisórios.

Formal

Intrapessoal

Refere-se ao sentimento de competência da própria pessoa numa determinada situação.

Refere-se à capacidade individual para participar e influenciar um processo de tomada de decisão

Refere-se à habilidade para tomar decisões que resolvam os problemas e produzam os resultados desejados.

Instrumental

Subjetivo

Ornelas, J. (2008). Teoria do Empowerment. Em J. Ornelas, Psicologia Comunitária (pp. 46-58). Lisboa: Fim de Século.

bottom of page