Saúde Mental Comunitária
Um olhar sobre a Psicologia Comunitária
MODELO DE FAIRWEATHER LODGE
O modelo preconizado por George Fairweather é composto por duas dimensões, sendo que uma se baseia no contexto hospitalar e outra no contexto comunitário. No hospital é estruturado um programa de transição, para preparar a saída para a comunidade. A segunda dimensão deste modelo consiste num espaço residencial na comunidade, estruturado de modo a proporcionar uma oportunidade de coabitação, emprego e ajuda mútua entre os seus residentes. A ênfase deste modelo é dada à autonomia progressiva e gestão participada do projeto, sendo os participantes encorajados a assumir progressivamente um papel ativo na tomada de decisão e resolução de problemas.
O modelo de transição é realizado com um pequeno grupo, contituído por 10 a 15 pessoas, que iniciam, em conjunto, atividades de treino de competências, relacionadas com o dia-a-dia, com o trabalho e com as relações interpessoais. Os técnicos têm como objetivo fomentar a coesão grupal, num continuum de autonomização, de modo a que quando finalizado o processo, cada um dos seus membros esteja apto para a saída do hospital.
O processo da saída é, segundo Fairweather, constituído pelos seguintes passos:
1. Abrange o desenvolvimento de responsabilidades como cumprir horários previamente acordados, participar nas refeições e em outras atividades, investir na sua imagem pessoal;
2. Inclui a área das atividades profissionais, desempenho de tarefas e participação nas reuniões de avaliação;
3. Implica o desempenho de papéis de responsabilidade e liderança de grupo e o planeamento da saída do hospital e integração na comunidade;
4. Concretização dos planos pós-alta hospitalar relacionados com o emprego, espaço habitacional e redes sociais de suporte a accionar para facilitar todo o processo de transição.
Quando o grupo percorre estas etapas, transita para o espaço comunitário, passando a ser da sua responsabilidade a dinâmica de todo o funcionamento.
De acordo com o autor, com este modelo pretende-se criar pequenas comunidades, geridas pelas próprias pessoas com experiência de doença mental, funcionando como fonte de suporte social e participação comunitária. A sua estruturação interna deve ser flexível, de modo a possibilitar a adaptação às dificuldades e problemáticas individuais. As atividades são normalmente realizadas em grupo para facilitar a resolução de problemáticas interpessoais, sendo que todos os participantes deverão desempenhar um papel específico no espaço residencial (a título de exemplo: lavagem de loiça, confeção de refeições, limpezas ou gestão administrativa da casa). Os profissionais têm um papel de consultores ou agentes facilitadores, podendo ser mais diretivos na fase inicial, mas reduzindo gradualmente a sua atividade e mecanismos de feedback permanete sobre as atividades desenvolvidas.
Dr. Fairweather Interview: Lodge Society in Today's World
Dr. Fairweather Interview: Starting the First Lodge Society
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Ornelas, J. (2008). Modelos de Serviços e Suporte Comunitário. Em J. Ornelas, Psicologia Comunitária (pp. 93-105). Lisboa: Fim de Século.