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Investigação Comunitária e Processos Colaborativos

 

Na investigação desenvolvida em contextos comunitários a qualidade e utilidade dos dados dependem do contexto em que são recolhidos e, especialmente, da relação que se estabelece entre investigadores e participantes no estudo. A relação investigação/comunidade deve estabelecer-se a partir da construção de uma parceria em que ambas as partes possam produzir escolhas e assumir o controlo global do processo, através de sistemas de comunicação aberta, do compromisso e do respeito pelas características individuais.

Uma forma de construir uma parceria comunitária é formar um painel comunitário de investigação ou um grupo de diálogo que inclua representantes das organizações comunitárias e outros cidadãos. Este processo pode implicar a dismistificação de algumas prespectivas prevalentes acerca da objectividade, da complexidade e da autoridadeda investigação, por isso, é necessário passar a mensagem de que a sua participação é real e crucial para o sucesso de todo o processo.

Por seu turno, James Kelly (1990 cit in Ornelas, 2007) enfatiza os aspectos sociais e ecológicos na formação de uma parceria comunitária de investigação:

  • A interpretação entre os investigadores e os cidadãos deve ser construida através das relações interpessoais.

  • Implica muitas oportunidades de contacto face-a-face, em momentos informais, de modo a que os intervenientes se conheçam sem a barreira do papel de peritos ou dos títulos académicos.

  • A construção da relação promove uma visão mútua.

  • Esta visão implica o reconhecimento de que existem recursos ou talentos que podem ser partilhados e são motivo de celebração, contribuindo decisivamente para cimentar os laços no seio do grupo. Os recursos existem tanto entre investigadores como nos membros da comunidade.

 

Trickett e Espino (2004) referiram que a colaboração comunitária tende a mudar conforme a profundidade da inclusão dos vários intervenientes comunitários, a extensão dos objectivos colaborativos e o grau de explitação ou de clareza da dimensão teórica da investigação. Estes autores propõem que a colaboração deve ser perspectivada num continnum que varia desde um extremo de não participação dos membros da comunidade, passando por um ponto intermédio que passa pela informação e/ou consulta face à investigação pretendida ou em curso, à sua participação como membros efectivos no contexto de uma parceria de investigação, até ao extremo oposto, o da delegação total do poder.

As estratégias de colaboração no desenvolvimento da investigação em contextos comunitários são elementos cruciais para a compreensão e para o aprofundamento da investigação-ação participada e para a produção de inovação neste domínio.

 

1.1.) Investigação-Ação Participada

A investigação-ação participada tem vindo a ser gradualmente reconhecida no âmbito das ciências sociais e humanas como uma estratégia promissora no envolvimento dos participantes na estruturação e implementação de estudos de investigação. Uma característica central neste tipo de investigação é o facto de a par de procurar promover o empowerment dos individuos, procura também facilitar a melhoria da ordem social, do funcionamento organizacional ou mesmo, a mudança política.

Esta forma de promover a investigação procura combinar o aumento do conhecimento com a educação e a intervenção social na definição e abordagem face aos problemas sociais, particularmente face aos grupos em situação de marginalização ou mesmo de opressão (Taylor, Jason, Keys, Suarez-Balcazar, Davis, Durlak e Isenberg, 2004, cit in Ornelas, 2007).

As formas específicas e particulares que a investigação-ação participada podem assumir dependem do contexto concreto em que decorrem os estudos. O ponto de partida é o grau de controlo que os participantes têm sobre o processo e os papéis que desempenham podem ser classificadas, segundo Balcazar et al. (2004 cit in Ornelas, 2007), com base em três tipos de critérios:

  • O grau de controlo que os participantes têm do percurso da investigação;

  • A medida em que os processos de decisão sao articulados entre investigadores e participantes;

  • Os níveis de contribuição concreta e de compromisso dos participantes o processo da investigação.

 

A investigação-ação participada combina a investigação com a ação social para assim definir determinados problemas que afectam populações marginalizadas, tornando-se assim coerentes com alguns dos pressupostos em que assenta a Psicologia Comunitária, como são a procura da autodeterminação, a promoção dos processos de colaboração, a participação democrática ou a justiça social (Balcazar et al., 2004; Nelson e Prillentensky, 2005 cit in Ornelas, 2007).

Esta abordagem da investigação-ação participada foi originalmente criada por Kurt Lewin (1946, 1948, 1951) com o intutito de desenvolver um mecanismo através do se pudesse construir uma investigação orientada para a mudança social. Para o autor, a investigação deveria ser simultaneamente o destino da ação social, através do estudo do seu percurso e dos seus efeitos e sua fonte, isto é, o elemento catalizador da ação social. Lewin procurou desta forma fazer a ponte entre a teoria e a prática, pois para o mesmo a melhor maneira de compreender uma determinada realidade é procurar mudá-la. As vantagens deste tipo de investigação contam-se assim pela construção de um conhecimento baseado na resolução de problemas reais em contextos naturais, pela criação de um novo papel para o investigador, transformando-o num facilitador, e pela redefinição dos critérios utilizados no processo de investigação, valorizando, por exemplo, a sua utilidade ou relevância social.

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