Saúde Mental Comunitária
Um olhar sobre a Psicologia Comunitária
Perspetiva ecológica
A Ecologia é uma referência fundamental à Psicologia Comunitária, funcionando paradigma científico e um conjunto de valores, partindo do pressuposto de que o ambiente exerce efeitos significativos no comportamento.
O estudo de unidades maiores do que os organismos individuais tem vindo a ser objecto da Ecologia, incluindo populações, comunidades, ecossistemas e a biosfera. Do mesmo modo que a Ecologia, a Psicologia Comunitária focaliza-se na relação íntima entre os organismos e os recursos, utilizando o conceito de organismo como produto das suas propriedades e a sua adaptabilidade aos recursos existentes ou em mudança, chamando assim atenção para o q está para além da pessoa, individualmente considerada
James Kelly (1966), ao propor uma analogia entre a Psicologia comunitária e a Ecologia, identificou quatro princípios para a abordagem da intervenção comunitária. O primeiro, relaciona-se com o facto de os componentes de unidade social serem interdependentes, isto é, as mudanças num dos componentes de um ecossistema, produzirão mudanças noutros componentes desse mesmo ecossistema. O segundo princípio, relaciona-se com o carácter cíclico dos Recursos (cycling of Resources) e sugere que no sistema biológico, a transferência de energia revela os componentes individuais que constituem o sistema e as suas inter-relações; a energia é transmitida através deste ciclo, ou seja, o que resta numa etapa serve de base para a fase seguinte do ciclo. O terceiro princípio, é o da Adaptação, que realça a especificidade dos recursos que o meio proporciona e como estes podem facilitar determinados comportamentos e constranger outros. O quarto princípio de James Kelly, relaciona-se com a Sucessão que implica a avaliação dos ambientes ou contextos como algo não estático. Enquanto a interdependência nos ensina a entender a comunidade antes de tentar alterá-la, a sucessão implica que tal mudança, tanto natural como artificial possa contribuir para uma maior compreensão do contexto. No seguimento dos trabalhos de Kelly (1966) e Levine (1969), desenvolveram-se a partir dos pressupostos da Ecologia, cinco princípios-base para a prática da Psicologia Comunitária. O primeiro principio reconhece que um problema surge num contexto ou numa situação. O segundo princípio, relaciona-se com a noção ecológica de interdependência, implica que as pessoas e os contextos funcionam como parte do mesmo sistema integrado. O terceiro princípio, focaliza-se na eficácia do suporte e implica que se este se localize estrategicamente no epicentro do problema, enfatizando a abordagem situacional inerente à analogia de base ecológica, que sugere que alteremos a nossa perspetiva sobre as formas de prestação de ajuda. O quarto princípio, direciona-se para os objetivos e valores do agente prestador de suporte ou serviços que deverão ser consistentes com os objetivos e valores do contexto. O quinto princípio, relaciona-se com a prestação do Suporte que se deve estabelecer numa base sistemática, utlizando os recursos naturais do contexto ou introduzindo novos recursos que podem passar a ser parte integrante do contexto.
Estes princípios, estabelecem o enquadramento para a conceptualização e para a acção na Psicologia Comunitária e contribuem para o design da avaliação d intervenção, para a estruturação de estratégias de mudança social e investigação neste domínio.
A analogia ecológica é um dos fundamentos principais da Psicologia Comunitária, porque a Ecologia, ao lidar com unidades maiores que a pessoa individualmente considerada, enfatiza os contextos naturais, considerando-os como os mais válidos.
Orlenas, J. (1997), Psicologia Comunitária: origens, fundamentos e áreas de intervenção. Análise Psicológica. 3 (XV), 375-388.