Saúde Mental Comunitária
Um olhar sobre a Psicologia Comunitária
Teoria da crise
Argumenta que as situações de crise surgem em resultado de uma falha na socialização e de dificuldades de resposta às circunstâncias, ou seja, as diferenças de funcionamento entre os indivíduos estão em função dos suportes do meio e da disponibilidade de moderadores par as situações de conflito. Apela para a oportunidade e importância da intervenção que se pode situar nos diferentes níveis dos processos de confrontação e das situações-problema.
A teorização da crise, relacionada com a prespetiva comunitária, teve início com os trabalhos de Erich Lindemann (1944), num estudo de pessoas relacionadas com as vítimas de um incêndio em Boston, nos Estados Unidos da América, onde observou que cada individuo que havia perdido alguém, teve que se adaptar à situação de ausência da pessoa falecida, recriando um ambiente que não a incluía e formando novas relações e ligações sociais. A partir deste estudo que os acontecimentos inevitáveis tendem a gerar tensão emocional e, na generalidade, requerem adaptação. A crise é precipitada por qualquer situação que perturbe a adaptação anterior e requere novas respostas, desafiando os indivíduos a alterações súbitas da sua conduta.
Dohrenwend (1978), partindo da Teoria da Crise, definiu como um dos objetivos da Psicologia Comunitária, a compreensão do processo pelo qual o stress gera perturbações emocionais e considerou como fundamental o conceito de adaptação que descreveu como sendo o aumento no índices de ajustamento entre o individuo e as exigências ou os constrangimentos do meio. O processo de adaptação pode ser facilitado pelo alargamento do nicho proporcionado pelo ambiente ou pelo aumento das competências individuais
O termo adaptação social, parece implicar que o indivíduo deve ajustar-se a um determinado sistema social, o que implica transações estruturadas entre o indivíduo e o meio. Como os acontecimentos vitais podem ameaçar a disponibilidade de recursos e provocar rutura nas transições sociais em curso tendem a requerer uma resposta adaptativa. Um número elevado de situações de rutura, requer processos de adaptação significativos de modo a permitir a sobrevivência, o indivíduo pode correr o risco de ficar desprovido dos meios para participar nas trocas de bens e serviços, facto que pode conduzir a novas situações de rutura e consequentemente ao isolamento social.
A adaptação pode envolver dimensões biológicas, sociais, de auto-referência ou valorativas pelo que um determinado estado de adaptação é também uma situação específica e temporária, novas situações de rutura podem surgir em resultado de outros fatores de stress ou mudanças no ambiente, por isso, inevitavelmente, períodos de adaptação alteram com períodos transitórios de desequilíbrio.
Orlenas, J. (1997), Psicologia Comunitária: origens, fundamentos e áreas de intervenção. Análise Psicológica. 3 (XV), 375-388.