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Teoria Geral dos Sistemas

 

A TGS é composta por conceitos que surgem da fisiologia (homeostasia), da cibernética (feedback) e da biologia (sistema), entre outras (Nichols & Schwartz, 1998). Assim, a definição de sistema nasce na década de 50, na sequência da reflexão de Von Bertalanffy sobre a possibilidade de aplicar as leis dos organismos biológicos a outros domínios, nomeadamente à mente humana e desta até à ecosfera global (Nichols & Schwartz, 1998). Este acaba por fazer extrapolações das suas observações do sistema endócrino para os sistemas sociais (Nichols & Schwartz, 1998).

            Um sistema é definido como um “«conjunto de unidades em inter-relações mútuas»” (Von Bertalanffy cit in Gameiro, 1992, p.20), sendo que isto pressupõe que uma modificação num dos elementos causará modificações nos restantes e que existe uma organização dos elementos constituintes. Por sua vez, organização é “«a disposição de relações entre componentes ou indivíduos, que produz uma unidade complexa ou sistema, dotado de qualidades desconhecidas ao nível dos componentes ou indivíduos»”(Morin cit in Gameiro, 1992, p. 20).   

            Para perceber o funcionamento de um sistema, devemos atender a alguns fatores. A complexidade, é definida como “«qualidade ou propriedade dum sistema que apresenta um carácter de novidade em relação às qualidades ou propriedades dos componentes considerados isoladamente ou dispostos de maneira diferente num outro tipo de sistema»”(Morin cit in Gameiro, 1992, p.21), ou seja, “é a incerteza no seio de sistemas ricamente organizados”(Morin, 1991, p.43). Este fator será abordado também no Modelo Químico de Prigogine, mas utilizando o conceito de “acaso”. Então a complexidade de um sistema estará relacionada com a impossibilidade de sabermos qual o caminho que este vai seguir (incerteza), embora possamos saber que existem inúmeras possibilidades.    

            A interação social “«surge unicamente nas situações sociais (…)em contextos nos quais dois ou mais indivíduos estão fisicamente na presença da resposta de um e de outro»”(Goffman cit in Gameiro, 1992, p. 205). Isto significa que a interação diz respeito à forma como os elementos se relacionam num determinado sistema, isto é, a forma como estão articulados.       

            Bateson dá um exemplo interessante para explicar a linearidade vs circularidade: “um homem que dá um pontapé numa pedra vs um homem que dá um pontapé num cão” (Nichols & Schwartz, 1998). A ideia subjacente é: se o homem der um pontapé na pedra, poderá prever a sua trajetória (sabendo a força, o ângulo do pontapé e o peso da pedra), mas se ele der um pontapé num cão há uma certa imprevisibilidade no que irá acontecer porque o cão pode reagir de diferentes formas (Nichols & Schwartz, 1998). Também o homem poderá modificar o seu comportamento dependendo da reação do cão, havendo a possibilidade de vários resultados (Nichols & Schwartz, 1998). Assim, existe uma influência recíproca. Na realidade não há em si um estímulo e uma resposta, mas sim um circuito onde é impossível saber qual o estímulo inicial e, em que uma resposta pode ser simultaneamente um estímulo.

            “«(…)As fronteiras, ou limites, são os envelopes dos territórios físicos e psíquicos, materiais e fictícios»”(Jacques Miermont & Payot cit in Gameiro, 1992, p. 189), ou seja, se pensarmos nos sistemas, eles estão em interação com outros ou no seu interior (subsistema - caracterizando os seus elementos) ou no exterior (suprassistema) assim há que delimitar essas relações estabelecendo limites, que nem sempre são físicos.

            Na Cibernética de 1ª ordem foram definidos dois tipos de sistemas, tendo em conta os seus limites: os abertos e os fechados. Os sistemas abertos são os sistemas naturais, sociais e humanos em que existe troca de informação com o exterior. Já os sistemas fechados são sistemas que não existem na natureza e onde não existem trocas. Com a passagem à cibernética de 2ª ordem e às teorias da auto-organização, introduziu-se uma nova distinção: os sistemas autopoiéticos e os alopoiéticos. Os primeiros caracterizam-se pela imprevisibilidade, irreversibilidade, e pela capacidade de transformar e gerar os processos que lhe deram origem, nunca param e nunca avariam, têm contenção dentro do próprio sistema e são não triviais (e.g., indivíduo, família, empresas, etc). Enquanto os segundos caracterizam-se pela previsibilidade, trivialidade, possibilidade de avarias e o produto do seu funcionamento é diferente dele próprio (e.g., motor de um carro).

            As seis propriedades dos sistemas são: (i) princípio da totalidade - o todo é mais do que a soma das partes; (ii) princípio hologramático - se o todo contém as partes, também será verdade que em cada parte está contido o todo; (iii) hierarquia sistémica - importância do contexto, onde se encontra ou participa, para a compreensão dos sistemas e subsistemas – análise das relações horizontais (dentro dos subsistemas) e verticais (entre os subsistemas, diferentes níveis hierárquicos); (iv) equifinalidade -condições iniciais idênticas podem corresponder a resultados diferentes e vice-versa; (v) retroação - o comportamento de um elemento não é suficiente para explicar o comportamento de um outro e vice-versa, sendo necessário ter uma visão circular o que possibilitará a compreensão da interação; (vi) auto-organização - autonomia do sistema na gestão e integração de informação que recebe do exterior. Assim, os sistemas mudam a sua estrutura mantendo a sua organização face a situações de crise ou mudança.

  • Gameiro, J. (1992). Voando sobre a psiquiatria. Porto: Afrontamento.

  • Miermont, J., Angel, P., Angel, S., Cordina, A., Christian, D., Guerrigues, P., … Segond, P. (1994). Dicionário de terapias familiares: teoria e prática (C. Molina-Loza, Trad.). Porto Alegre: Artes Médicas. (Trabalho original publicado em 1987).

  • Morin, E. (1991). Introdução ao pensamento complexo (D. Matos, Trad.). Lisboa: Instituto Piaget. (Trabalho original publicado em 1990).

  • Nichols, M. P., & Schwartz, R. C. (1998). Family therapy. Concepts and methods (4th ed.). Boston: Allyn and Bacon.

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